Esse post é meramente imaginativo, e como todo post assim, vai soar com estranheza aos ouvidos de muitos; se quiser arriscar, que comece a ler. Antes de tudo, gostaria de dizer que esse texto nada conclusivo - sequer informativo - foi motivado pela minha recente volta a antigos gostos; antigas músicas, antigos artistas; um mais deliciosamente fascinante que o outro; se tudo der certo, falo sobre algum deles no próximo post.

Falando sobre o que é "vitoriano", basta que se saiba que é tudo aquilo que compreende o período em que a Rainha Vitória esteve no comando do Reino Unido, entre os séculos XVIII e XIX. Período conhecido pela exuberância voltada a vaidade e ao luxo; a época em que a etiqueta européia alcançou um nível gritante e insuportável a ponto de pôr a loucura qualquer um e, também, uma das eras da história cuja estética é perpetuada - embora que em releituras modernas - até hoje. Há certamente uma postagem sobre essa era em meu baú particular de posts ainda não utilizados, então a calma se faz necessária. Agora, quanto ao assunto:
Quando eu falo sobre "obscuridade", estou em verdade me referindo a estética artística denominada neo-vitoriana - geralmente representada mais ativamente pela tribo gótica. Sim, eu amo essa forma de expressão; para mim, o modo mais puro. Mas porque o amor por algo tão marginal?
Eu gosto de culturas que permeiam o óbvio, mantendo-se longe dele; é assim que me apaixono: com base na diferença, do mais singelo gesto à mais apurada discussão sobre o que é ou deixa de ser "arte". Amo a controvérsia e tudo que ela carrega consigo; a transgressão, a liberdade (que, sim, é muito mais próxima da libertinagem do que pode supor a classe média de descendência européia).
Amo o agressivo, gosto dos gritos, das vozes distorcidas e da batida mecânica do rock industrial; gosto da interferência de elementos clássicos em músicas escabrosas; amo esse suspiro, esse modo destruidor de gritar para o mundo o quanto somos sensíveis e gentis, elegantes e bem resolvidos.
Ora, mês passado eu soube que iria acontecer um picnic vitoriano em Florianópolis; pensei seriamente em ir, mas agora, por mera negligência minha, está em cima da hora demais (ao que parece, o pessoal teve de apressar os preparativos para não perder o frio do inverno!). Como posso arranjar uns coletes? Relógios de bolso? Sobrecasacas? Luvas? Sapatos? Não, agora é tarde para pintar meu rosto de branco e meus olhos de bege; minhas falsas olheiras terão de esperar uma próxima vez; tal como minha postura aristocrática e toda a parafernália interpretativa que inclui ser um personagem neo-vitoriano.

Um alter-ego? Não. Muitos não entendem, mas não existe alter-ego neovitoriano; o personagem é, em verdade, o que usamos no mundo comum; o que realmente somos é sim, nosso Elegante, Gótico e Aristocrata Senhor (ou senhora, ou ambos).
Não vou ditar o que um aristocrata precisa ser, isso cada um carrega consigo, mas uma coisa que a maioria de nós partilha é o amor pelas trevas, pelos semblantes que, de tão brancos, são impossíveis, doentios, desumanos e, exatamente por isso, tão belos. Meu amor por esse aspecto cresceu comigo, embora eu me renegasse a tê-lo até alguns anos atrás; sim, eu me lembro o quanto eu gostava de vitorianismos desde criança; sei de uma fase minha em que, quando infante, saí por Orleans procurando por algo parecido com uma cartola; queria uma bengala também, sempre tão elegante! E luvas de couro, o que mais uma criança em processo de autodescobrimento aristocrático poderia querer? Sinto necessidade constante de me sobrepor, mas não da forma afável.
Sim, amigo(a); sou um daqueles loucos apaixonados, entregues, prontos, que amam a sublimidade arrepiante, que vê a mais sincera beleza em uma rosa negra, que se realiza ao vestir uma sobrecasaca ou um espartilho (masculino ou feminino, tanto faz, gênero é algo para personagens sociais, não para nós!). Somos tudo! Os mais incoerentes, os mais belos! Carregando consigo todo o peso da elegância e da nobreza mais vibrante de uma época que se foi, com a versatilidade e vontade de viver dos tempos modernos. Somos sim, gritamos, falamos, gargalhamos, sempre com a postura ereta e com a certeza de que, ao menos por alguns instantes, poderemos deixar todo o resto para trás, ironicamente, relembrando o passado.

Sim, somos jovens - ou nem tanto, a cabeça é uma verdadeira anciã, libertária, mas anciã - e mergulhados na escuridão; lá dentro, na treva, podemos ver absolutamente tudo o que está iluminado ao nosso redor. Me parece tão piegas falar desses temas, quase infantil; mas entenda, minha admiração é tal que, nem com palavras, consigo expressar; no fim, sou só um péssimo escritor com uma mente muito estranha; só. E de tão estranha é a minha mente, ela chegou a ousar ser verdadeira, veja só!
"[...] E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
- Libertar-se-á... nunca mais!"
- TRECHO TRADUZIDO DE "The Raven", ORIGINALMENTE ESCRITO POR EDGARD ALLAN POE