terça-feira, 20 de julho de 2010

Mulheres que lêem mãos

O presente post é um delírio dos mais antigos e mais incoerentes que já tive; no que se refere à idéia geral, é tudo muito subjetivo, ou você entende ou não; de qualquer forma, não pretendo me aprofundar no assunto; basta que saiba que a motivação para escrever sobre o assunto partiu de uma aclamada leitura minha: o mangá xxxHolic; mais precisamente, sua personagem principal, Yuuko (imagem ao lado). Algumas coisas só podem ser entendidas em sua plenitude quando você se entrega ao assunto, mas como disse, são só confabulações quase inocentes sobre um tema terrível; aproveite o que puder, se quiser.

Ao pensar em mulheres que lêem mãos, naturalmente, você ligará o assunto a dois ramos específicos do misticismo, coisa que acontece pois somos uma geração bastante estereotipada mitologicamente - mas vá, faz parte do nosso show - e, tanto ciganas como bruxas nos são conceitos bastante batidos, embora o primeiro ainda tenha uma certa pureza, sendo o segundo impregnado de Harry Potterismos; aliás, por falar em JK. Rowling, quando lembro da saga bruxolesca, me vem apenas cinco coisas à cabeça:

  • "Caraminholas na cabeça, Sr. Potter?"
  • "... Deixe que durma, pois nos sonhos entramos em um mundo inteiramente nosso; deixe que ele mergulhe no mais profundo oceano ou flutue na mais alta nuvem..."
  • "Tempos difíceis estão por vir, tempos em que teremos que saber distinguir o que é bom e o que é fácil..."
  • "Para uma mente bem estruturada, a morte é apenas o começo da aventura seguinte..."
  • "Oh, que pena... Cera de ouvido!"

O motivo de eu ter grifado essas frases foi meramente filosófico, eu simplesmente não podia deixar de pontuá-las. Talvez você perceba o que há de interessante nelas ao chegar no fim do texto.

Voltando ao ponto, as ciganas, donas dos famintos olhos oblíquos e dissimulados, quase sempre verdes - mas por vezes mais negros que a mais profunda treva - esmeraldinos e descarados; mais que isso, felizes, indubitavelmente felizes dentro de si mesmas. Eis a visão estereotipada da qual eu falava, mas ela me serve aqui pois vou falar, não de ciganas, mas da Sorte.


Você acredita em adivinhação de Sorte? Ora, eu sim! Embora também acredite que adivinhos verdadeiros não cobrem muito mais que um olhar sincero. Penso que muito belo deve ser o ofício de saber o que ocorrerá com o outro; um contrato mudo e nada mais; uma troca de olhares, uma percepção mil; está feito. Embora as palavras não sejam enlaçadas pelos três destinos, elas foram proferidas e inegavelmente irão conduzir a vida do ouvinte; sempre.

A Sorte é instrumento complexo, mas como sabem, ela nunca esteve e jamais estará em nossas mãos, entretanto existe algo que controlamos e que pode sim dar uma reviravolta visceral nesse elemento primordial: as palavras. Dentre todos os elementos que amarram o ser humano, a palavra é a única corrente solta, livre, tão livre; e se a palavra é tão libertina, é porque foi criada pelo homem, nunca pela natureza; e ela apenas permitiu a existência da palavra, talvez por pena. Há de alertar, portanto, que aquele que se lança no caminho da Sorte deve escolher bem suas palavras.

Existem pessoas que, entretanto, não vêem limites para suas palavras, e esses são nós, escritores, artistas, verdadeiros gigolôs do vocabulário; lançando mão de nossas palavras, explorando o mais profundo poço de delírio, cada psicose, cada gota de mel e cada veneno; nós, meu amigo(a), somos todos grandes libertários, grandes ignorantes - preços não nos compram - mexemos com fogo, usamos nossa corrente solta para açoitar as outras correntes; sádicos, sim. E por isso nos submetemos à Sorte e ao preço equivalente de nossa expressão; palavras são caras.

Não, não me entenda mal, não estou fazendo um discurso controlador, mas sim, um discurso de pura fantasia; recomendo sim que usem suas correntes soltas; aliás, é isso que falta ao mundo. A sociedade já usou as palavras para machucar demais a si mesma, basta. Ei de notar o quanto o delírio nos é precioso e, por isso, vai ver o quanto o mundo precisa que voltemos a sonhar. Quando uma de nossas amarras se soltou, usávamos ela para se entrelaçar entre outras cordas do destino e assim, sonhávamos com mais frequência, sonhos lindos. As Moiras nos amavam, estávamos no ventre delas.

Sim, escrever é transgressão e sim, há um preço a ser pago, mas nem todo preço é ruim; alguns preços nos dão frutos vitais; um exemplo: nós seres vivos sabemos muito bem que oxigênio é um gás absolutamente tóxico, mas preferimos usá-lo mesmo assim, sob a certeza de perecermos oxidados ao fim da vida, mas com igual sabedoria de que, com mais energia, faremos nossa curta vida valer a pena.

Há ainda aqueles que lançam suas correntes sobre si mesmos; mas me diga, senhor(a), o que você pensa sobre ler a própria Sorte? Acha prudente? Ler e ser o próprio destino? Ei-la.


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