quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sylvester me ensinou a ser Disco

Eu estou a basicamente uma hora olhando para essa página em branco e simplesmente não sei o que escrever; o título está ali, a idéia está na cabeça, mas como por em palavras uma admiração tão absoluta sem parece que estou catequizando o leitor? Por outro lado, catequese não é necessária, pois atire a primeira pedra quem nunca dançou ao menos uma música de Sylvester.


Sylvester James, negro, gay, afetadíssimo, foi pobre e contraiu AIDS ao fim da vida. Um dos maiores nomes da disco music.

Repare que eu não usei o "mas" ao falar de Sylvester, coisa que teria acontecido com muita gente; não o fiz porque tenho respeito na cabeça e sei que ser negro, gay, afetado, pobre ou aidético jamais precisará de algum tipo de compensação para que se anule alguma dessas características, já que nenhuma delas é, em absoluto, um defeito, mas uma nuance de um ser. Ou estaria você sugerindo que o vírus da AIDS só infecta quem o almeja? Ou ainda que as pessoas "viram" gays? Que alguém nasce pobre porque quer, que pobre não pode ser feliz? Que os trejeitos de uma pessoa medem seu caráter ou representam depreciatividade, quaisquer que seja?

Pois bem, sei que as respostas foram negativas pois sei que estou tratando com humanos de calibre; aliás, uma nota rápida: é deplorável que tenha de haver essa diferenciação entre "gente burra" e "gente com cabeça", mas há, e isso sim, é passível de preconceito, pois ignorância é facilmente tratável (com boa vontade e leitura) salvo raríssimas excessões de falta de oportunidade (a esses não devemos destinar pena, mas ajuda).

Tudo bem, essa introdução toda me aqueceu o cérebro, agora, foco: Nascido em 6 de setembro de 1947, Sylvester James viveu em condições precárias no início de sua vida, vindo de uma família simples, foi incentivado a cantar por sua avó, que era cantora de jazz. Como a grande maioria dos rapazes gays da época, ele enfrentou uma adolescência conturbada, não da parte dele, mas da parte dos pais (como ainda é costume hoje); dada certa ocasião, Sylvester fugiu de casa - aos 16 anos - e se mudou para San Francisco.

"Minha vida começou quando fui para San Francisco" - Sylvester

Sua carreira realmente começou a ter significado quando se juntou ao grupo de drag queens The Coquettes (que influenciaram o famigerado grupo brasileiro "Dzi Croquettes", tema sobre o qual Zeca Camargo desenvolve lindamente). O tempo que separa Sylvester do verdadeiro sucesso aconteceu depois do fim do grupo Coquettes, quando ele enfrentou uma série de tentativas, algumas parcialmente bem sucedidas, se assinar com uma grande gravadora. Finalmente, em 1977, Sylvester assinou com a gravadora Fantasy Records, mas foi só no segundo álbum de Sylvester emplacou de vez como um dos maiores nomes da disco music.

Disco's Queen, assim era chamado.


Ora, a essa altura você já deve (ou deveria) estar se coçando para ouvir uma música dele, correto? Eis o problema: você ouviu uma música dele; não só ouviu, como esgotou seus ouvidos de tanto ouvir e, tenho certeza, até remexeu seus quadris ao som dela. Sim, Sylvester teve muitos sucessos, mas nada, nada superou seu grande orgulho, uma música que até hoje é obrigatória em qualquer festa que se preze; uma que, em minha singela opinião, compacta todo e completamente o universo disco em meros 5 minutos.

Sylvester me ensinou a ser Disco, ele me mostrou nuances de uma geração maravilhosa, transgressora no mais puro sentido da palavra; uma geração, tão contrária à nossa, sem medo. Uma geração que pintava seus rostos e saía para a rua protestar e, na noite seguinte, montava em suas plataformas e se acabava nas boates. Uma geração que não se preocupava com números de parceiros em uma única noite, mas com o ritmo da música que os embalava e, claro, poderia conduzir a momentos a dois (mas isso era detalhe). Globos de vidro já não significam nada, já que não somos mais capazes de nos olharmos no espelho.

Oh sim, você quer ouvir Sylvester denovo, correto? Pois aproveite, com a promessa de que jamais esquecerá o nome de quem ele foi, pois poucos conhecem o dono deste diamante musical: You Make me Feel Mighty Real - Sylvester James.



Opa, não satisfaz, correto? Que tal mais dois sucessos, para dançar mesmo, na frente do pc, como um bom amante da Disco? rsrs

Dance (Disco Heat)
Do You Wanna Funk

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